A Casa Típica de Santa Maria tem características únicas no âmbito do arquipélago e apresenta uma uniformidade arquitetónica, simplicidade e belezas raras. Constitui, sem dúvida, o marco mais importante e identitário do património edificado da ilha de Gonçalo Velho, assim como o mais apreciado pelos visitantes, quer individualmente, quer pelo seu conjunto na paisagem.
A Casa Mariense distingue-se por um conjunto de características que vão da sua implantação e distribuição no território, à constância do conjunto de volumes que formam o sistema forno/chaminé, passando pela escala, proporção e volumetria do corpo habitacional, telhados e beirais, até à coloração dos seus socos e molduras (“vistas”), diferenciadas por freguesias.
Começa por corresponder a um povoamento mais interior que em qualquer outra ilha, caracterizado pela dispersão do casario nos montes e vales da ilha, que conferem às paisagens rurais uma rara beleza de configuração “em presépio”.
O modelo-base da casa típica de Santa Maria é de formato retangular, apresentando a frente simétrica, com uma porta e duas janelas, e teto, predominantemente, de quatro águas, com telha de canudo (feita outrora com barro de Santa Maria) e beirais duplos muito característicos e de grande estética. Normalmente, contém um balcão quase em toda a extensão da frente, exceto quando a casa tem uma “loja” de arrumações no piso térreo. Pelo lado de trás, o forno de pão encimado pela chaminé que pode ter dois formatos característicos: o prismático – «Chaminé de Mãos Postas», de forma retangular (tido como o mais antigo), e o cilíndrico – “Chaminé de Vapor”, de forma redonda, assente numa pirâmide truncada e com um remate pontiagudo (“espicho”), considerada, pela sua singularidade e elegância, um “ex-líbris” de marca/imagem identitária de Santa Maria, não obstante ser mais recente
Na sua construção, foram usadas pedras de basalto negro e traquíticos vermelho-acastanhados e acinzentados (cantarias), sendo o reboco das paredes uma espécie de massa feita com cal, barro e saibro, materiais geológicos existentes na ilha.
A elegância singela das habitações é realçada, de sobremaneira, pela predominância da cor branca no seu corpo e pelas faixas (“vistas”), de cores: azul-anil (Santa Bárbara), amarelo (S.Pedro), vermelho-almagre (Almagreira) e verde (Santo Espírito), que emolduram as janelas e portas, dando um cunho peculiar a cada freguesia.
Texto de José Melo, CADEP-CN*
* Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Sta Maria